A um amigo desconhecido.
Temos passado
um pelo outro em tantas rotas,
tem nos
banhado o mesmo Sol, com suas notas
ardentes
e generosas,
que harmonizam
vidas ruidosas com Amor mudo...
Não temos
quase nos falado ainda, contudo,
pois que
a voz antiga do passado
nos
aconselha a ignorar desconhecidos...
No
entanto, sinto que essa voz é um engano,
pois que,
no palco reservado ao humano,
eu,
tantas vezes, tenho estado ao teu lado...
Relembra...
estive ao teu lado quando,
envolvido
pela paixão,
acreditastes
enfim ter encontrado
a outra
metade de ti mesmo, teu reverso,
e a tua
alma, aturdida, embriagada
com o
sabor dessa união, embora limitada,
já
transbordava em emoção e em doces versos...
Saboreamos
juntos esta intensa,
a um
tempo, doce e amarga experiência!
Estive
contigo desfrutando o mais perplexo sentimento,
no dia que a Vida passou por nós e gerou mais vida,
e aquela
nova criatura, como do nada surgida,
quis vir
à luz... puro mistério presenciamos neste momento!
E,
intimados pela Lei da Vida,
nós
entregamos, àquele ser, desvelo e amor, doçura e alento.
Estive
também ao teu lado quando
um dia,
achaste estranho teu rosto no espelho,
e assim,
brincando de imortais, nos vimos cada vez mais velhos,
embora
algo, em nossa alma, ainda fosse como era antes...
Senti,
contigo, nestes instantes,
o quão
veloz o novo faz-se antigo...
E também
estive contigo, ao teu lado
quando
alguém, querido, de nós foi levado...
para
onde? paradoxo dolorido, sem saídas
pelas portas
comuns da vida,
que exigiu
que buscássemos respostas
bem mais
além do trivial e da ilusão...
Sentiste?
suavemente, nestes momentos,
a minha
mão, inquieta, buscava a tua mão...
Vê que és
bem mais do que apenas um irmão,
pois és
um outro eu-mesmo, embora isolados
por
divisórias feitas em um papel fino
como um
véu, de linho opaco e delicado...
Portanto,
esquece o que disseram ao menino...
nem toda
voz antiga é verdadeira!
Não sou
estranho, e todo o tempo estou contigo...
Já não me
chames apenas de um amigo,
pois
somos um, e o veremos, quando queiras
erguer os
gastos e já rotos véus...
Somos
intérpretes do mesmo drama humano
buscando
achar um território estável, ameno
aonde ir repousar
nossos cansados pés...
Qual a divisa entre as nossas duas
vidas?
Buscando em ti, eu vejo parte do meu
mundo,
Buscando em mim, entenderás mais do que és...
Buscando em mim, entenderás mais do que és...
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