Antes que fechem novamente as cortinas,
pois há sinais de que este ato já termina,
há que entregar algo aos que encontro na coxia,
querendo-os aptos para o ato que inicia.
Há algumas coisas a dizer, de essencial,
das entrelinhas do script da vida,
das fibras mesmo que compõem este papel,
da sutil voz que por tão poucos foi ouvida.
Questionem tudo o que aqui se diz real,
e considerem mais verazes os seus sonhos.
Fadas e príncipes, princesas e dragões,
todo esse mundo, que intitulam de ilusões...
E os amores que se dizem fantasias,
contos de almas gêmeas e de amor eterno,
e os sentimentos, tudo que é sublime e terno,
jamais duvide: aí se encontra o que é real.
E até mesmo aqueles Contos de Natal,
de algum presente precioso, encontrado
numa manhã, premiando os méritos passados,
doces surpresas, singela felicidade...
Pura verdade.
Anote o que não deve acreditar jamais:
que a vida é marcha cega, ansiosa e amargurada,
querendo coisas que jamais servem p’ra nada,
fundamentada em idéias ocas e banais.
E que o instinto é soberano sobre as gentes,
e todos estes argumentos de impotentes
que, sem ver nada, tornam lei o não ver nada,
e dizem loucos os augúrios dos videntes.
Quem nasce de olhos fechados
mas morre de olhos abertos,
descobre o que é estar desperto,
e se reconhece num sonho,
sempre bem mais translúcido e fugaz...
E sente a sombra do Uno que há por trás
desse pequeno Eu, evanescente.
Se sente ao Uno, a si mesmo sente
no palco, e pode distinguir a realidade.
Pois, na caverna, quem retorna, entende mais
de sombras, do que o “douto” que as crê reais.
O mundo é sonho, e o que desperta é verdade.
Quem vê a vida desde tal ponto de vista
consagra o seu papel, real protagonista.
Essa visão, mais que precisa e certeira,
agora entrego àquele que a creia e queira,
aquele a quem faça sentido a lembrança
do legítimo roteiro,
trazido à cena da vida
por todo aquele que aqui foi bom artista,
pois sua arte, pura, aguça e apura a vista.
E, para a apática platéia, fica a herança
de, mais que espera e aplausos, buscar esperanças...
Notar que o sábio ator é dígito, em verdade,
das mãos do Grande Ator, final Realidade,
e, onde achar rastros de algo belo e puro,
não se esquecer que aí de fato há um portal...
buscá-lo em atos é o Dever ...e é o Ideal.
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