Poesia para despertar Sophia

Poemas inspirados em vivências filosóficas

Antes que fechem novamente as cortinas,

pois há sinais de que este ato já termina,

há que entregar algo aos que encontro na coxia,

querendo-os aptos para o ato que inicia.



Há algumas coisas a dizer, de essencial,

das entrelinhas do script da vida,

das fibras mesmo que compõem este papel,

da sutil voz que por tão poucos foi ouvida.



Questionem tudo o que aqui se diz real,

e considerem mais verazes os seus sonhos.

Fadas e príncipes, princesas e dragões,

todo esse mundo, que intitulam de ilusões...



E os amores que se dizem fantasias,

contos de almas gêmeas e de amor eterno,

e os sentimentos, tudo que é sublime e terno,

jamais duvide: aí se encontra o que é real.



E até mesmo aqueles Contos de Natal,

de algum presente precioso, encontrado

numa manhã, premiando os méritos passados,

doces surpresas, singela felicidade...



Pura verdade.



Anote o que não deve acreditar jamais:

que a vida é marcha cega, ansiosa e amargurada,

querendo coisas que jamais servem p’ra nada,

fundamentada em idéias ocas e banais.



E que o instinto é soberano sobre as gentes,

e todos estes argumentos de impotentes

que, sem ver nada, tornam lei o não ver nada,

e dizem loucos os augúrios dos videntes.



Quem nasce de olhos fechados

mas morre de olhos abertos,

descobre o que é estar desperto,

e se reconhece num sonho,

sempre bem mais translúcido e fugaz...

E sente a sombra do Uno que há por trás

desse pequeno Eu, evanescente.



Se sente ao Uno, a si mesmo sente

no palco, e pode distinguir a realidade.

Pois, na caverna, quem retorna, entende mais

de sombras, do que o “douto” que as crê reais.

O mundo é sonho, e o que desperta é verdade.

Quem vê a vida desde tal ponto de vista

consagra o seu papel, real protagonista.



Essa visão, mais que precisa e certeira,

agora entrego àquele que a creia e queira,

aquele a quem faça sentido a lembrança

do legítimo roteiro,

trazido à cena da vida

por todo aquele que aqui foi bom artista,

pois sua arte, pura, aguça e apura a vista.



E, para a apática platéia, fica a herança

de, mais que espera e aplausos, buscar esperanças...

Notar que o sábio ator é dígito, em verdade,

das mãos do Grande Ator, final Realidade,

e, onde achar rastros de algo belo e puro,

não se esquecer que aí de fato há um portal...

buscá-lo em atos é o Dever ...e é o Ideal.

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