Senhor, enviai-me um pássaro
que cante com a audácia suficiente
para invadir, das minhas janelas, os umbrais,
capaz de impor à impotência e ao desalento
vozes verazes,
vozes reais,
pois a esperança é só a espera de seu Canto...
Simples assim,
e nada mais.
Eu não espero que me envies uma ave
de cores raras ou de exóticos contrastes,
mas simples ave canora,
castanha, talvez,
mas cujo canto alcance o ouvido de quem chora
e a postura tenha algo de altivez.
Uma ave... é certo que não peço mais,
nem de mais necessito...
Ave de canto melodioso e algo aflito
por espantar o canto de todas demais
que não expressem sentimentos, só repitam
surdos lamentos, tão amargos e triviais.
Se a ave canta e eu a ouço e imito,
renascerá a minha voz e o meu ouvido,
e a voz do mundo terá a ênfase de um grito,
tornando a própria dor sussurro sem sentido.
Se for por expressar tua Voz, Senhor, que eu viva,
que eu alce voo alto e escute os apelos
dos que constroem dor e enterram-se na dor.
Que eu voe e cante, voe alto e cante belo,
que, para o Bem, meu canto seja hino e elo,
e, para o Mal, seja rugir devastador.
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