Quando a voz das emoções torna-se muda,
e não mais sopram os ventos das paixões,
há que haver terra firme, além das ilusões,
onde ancorar, reconstruir, buscar ajuda.
Na solidão aterradora deste tempo,
em que, parece, até o tempo se ausenta,
no vácuo de todas questões e sentimentos,
e nada novo em nossa porta se apresenta,
perder, ganhar, importa pouco ou quase nada,
quando o desejo perde o gosto e já desbota,
gesto mecânico, sem cor, sem tom, sem nota,
e até a memória extraviou no pó da estrada.
Em algum lugar, tua sombra tênue há de estar,
sem corpo físico, mas viva e em movimento.
Sei que também atravessaste este momento
e prometeste revivê-lo junto a nós.
Preciso ver e constatar, junto, ao teu lado,
um novo gosto, que depure o paladar,
novas razões que me motivem a atuar
sem estar presa vitalmente ao resultado.
Como te moves? onde encontras tuas razões?
Qual é o chão que te impulsiona ao movimento?
Que restará, qual sensação, qual sentimento,
em meio ao vácuo do calar das emoções?
Recomeçar, trilhar de novo essa estrada,
despida a máscara, desbotado o verniz,
sem ostentar tudo o que sou, tudo o que fiz,
com a certeza que não sou nem faço nada.
Nesse avançar no anonimato, passo mudo,
reencontrar-me, estando em tudo, agindo em tudo,
rumo à alvorada luminosa em que me esperas,
junto ao Anônimo que construiu as Eras.
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