Para um mestre que, um dia,
me disse que seu nome era aceitação.
Abri hoje minha janela
diante de um mundo completo.
Brilhando com todas estrelas
às quais tenho dado passagem,
sombrio por todas as sombras
que de mim mesma projeto.
Modelo meu mundo perfeito
com o que julgo necessário.
Com águas correndo, em seus leitos,
por relevos bruscos, vários.
Atravessando mil vales,
lançando-se sobre as colinas,
invadindo suas margens
em enchentes repentinas.
Correndo, num ritmo insano,
marcando o relevo terrestre,
delineando paisagens,
sonhando com a paz do oceano.
Qual é a verdade do mundo
sem as formas que eu imponho?
Qual é a geografia do mundo
sem minhas sombras e minhas lutas?
Será tudo isso um sonho,
um delírio turbulento,
ou será, de fato, o mundo
feito em Luz Absoluta?
Se és Luz, Senhor do Mundo,
sei que eu também o sou.
Vejo apenas que tu és
Luz maior e mais potente.
Como irei, então, servir-te,
senão sendo transparente,
sob a terra, escura e inerte,
apenas pequena semente.
Centelha que, oculta no solo,
reflete a luz soberana,
e busca brotar à luz plena
que lhe aqueça e alimente.
De ti, Senhor, eu pressinto
que não esperas que eu seja
uma opaca afirmação,
opondo-me ao feixe de luzes,
lançando mil sombras no chão.
E não necessitas que eu meça
ou teça considerações
sobre a força dada ao vento
ou o ímpeto do oceano.
O que me cabe somente,
em vossa perfeita paisagem,
consiste em fluir, confiante,
neste vasto rio humano,
vencendo o relevo, à frente,
para que outros navegantes,
ao ligarem-se à corrente,
encontrem-no mais suave e plano.
Aceito as pedras sobre as quais me lanças,
as quedas bruscas em que me arremessas,
pois, apesar de toda dor e medo,
não perderei a força e a esperança.
E já vislumbro, ao longe, no futuro,
quanto serei mais cristalino e puro.
Com minha dor, arestas são polidas
e outras águas virão ao nosso encontro,
bem mais velozes, com menor atrito.
Para atraí-las, entoarei meus cantos
e, sobre as pedras, ouvirei seus gritos,
e somaremos as luzes e as vozes
para banharmos, juntas, o Infinito,
esse Oceano místico e profundo
onde repousas, oh Senhor do Mundo.
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