Poesia para despertar Sophia

Poemas inspirados em vivências filosóficas



Para minha mãe.
Para Abentofail, e seu “Filósofo Autodidata”.

O seu corpo, as suas coisas,
o perfume, a penteadeira,
o copo na cabeceira
da cama vazia,
tudo está...
Ela, não mais.

As expressões triviais,
o gosto por fruta do conde,
as chaves, não saber aonde,
o lenço, não achar jamais,
tudo ecoa na memória, tudo está...
Ela, não mais.

Onde estarás, então?
Em díspares tradições,
direções tão desiguais:
nos céus, paraísos, ao lado
de seres celestiais?
Em um éden loteado
de casas e hospitais?
Desperta, contando histórias,
dormindo, em eterna paz?
Onde, enfim, estarás?

E se não estás?
E se simplesmente és?
Por que o “estar” é obrigatório?
Porque “estar” é necessário acessório
de nossa ignorância,
viciada em endereço e substância,
que nada sabe do Ser,
porque não é.

Quando eu perder meu copo, corpo e penteadeira,
quem eu serei?
E, se já o sou agora, neste instante,
o que, de fato, perderei?
Se já o encontro agora, onde a ânsia
por não perder meu copo, corpo e substância?

O velho mestre achou insólita resposta
que escapa à lógica comum e atrai e alerta,
ao descobrir a semelhança entre sua essência
e o Fogo que arde em sua ilha erma e deserta.

Onde está o Fogo? Onde ele não está?
na fricção de minhas mãos, já se anuncia,
e então, de súbito, ele desaparece...
Mas sempre o rastro fugaz de sua “presença”
surge e me aquece...

Onde suas células, partículas, coração?
É sua a base que lhe dá a combustão?

Móvel, tão vivo, luminoso, cálido...
Algo em ti era assim também...
Também em mim, alguma vez, parece Dia
mesmo quando a noite vem...

Algo É, em mim, e a fricção do que é ilusório,
por certas vezes, me desperta e incendeia.
É como um sangue flamejante, em um território
Onde não há corpos, nem há copos, nem há veias...

Talvez “exista” uma Ilimitada Chama
que elaborou esse Universo infinito
para fazer nascer pequenas chamas
em seus atritos...

(Misteriosa Ciência
que, do atrito, faz nascer a Consciência...)

Talvez a chama diminuta O reflita,
como um espelho, em diminuta dimensão.
E essa chama, com o véu que a limita,
ao atiçar seu fogo e sua combustão,
destrua as bases, incinere a divisão,
e se transforme em Fogo Uno e Sutil,
Que nunca existe ou existiu... mas sempre É.

Onde estás, eu não me perguntarei mais...
Sei que te encontro...
Quando, do atrito desta vida, extraio luz,
num mesmo ponto...

Tu me trouxeste à luz...tu és, da Luz,
uma expressão limitada e peregrina,
pela ilusão confinada,
mas Livre e Eterna, quando a ilusão termina.

No dia em que a luz que recebi,
tua e de tantos,
lançar fagulhas que o forte vento
leve adiante e chegue até ti,
Recebe o beijo ígneo que envio
vindo desta pequena luz, que é tua filha,
que, contra todo vento e tempestade,
teima e atiça o fogo da Vontade,
e ainda brilha.


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