As buscas espirituais da humanidade
narram a passagem de sábios perfeitos;
eu acredito que falam a verdade.
Alegra-me saber que alguém cumpriu sua missão,
Que a trilha possui termo e que alguém o atingiu,
Fazendo-se, então, à imagem do Pai.
Que sejam louvados os sábios, que chegaram tão distante...
Mas vos peço, gentilmente,
Compreensão com os que ainda buscam o acesso,
Que buscam, mas longe ainda vão.
Que o amor alargue vossos braços
E crie espaço em vosso coração
Para caber os que apenas lutam,
Num passo a passo incessante, insistente,
de escasso rastro deixado para trás.
Dos que mergulham em si sem escafandros,
Com seu esforço, usando todo o ar
para emergir, ainda que com escasso fruto
trazendo algo a oferecer, compartilhar.
Aos que retorcem, em dias magros, qualquer luz,
Para lançar uma centelha no caminho.
E saboreiam as centelhas das estrelas
Na confiança de que não estão sozinhos.
Destes que choram, ocultos atrás das portas,
Para que a dor não manche vossas esperanças.
Que choram e se encolhem, qual crianças,
Com os seus braços envolvendo seus joelhos.
E que, às vezes, creem-se fracos, creem-se velhos,
Mas que não cessam jamais de caminhar.
E, se o Sol reaparece, nas manhãs,
Correm a estar com ele, efusivamente...
Limpam suas armas, luzem seu escudo
E partem para a sua luta novamente.
Pois longa é a estrada, e sua luta é tudo
Que sabem e animam-se a fazer em sua vida.
Simples quixotes, com o tempo atrás de si,
Olhando apenas para frente, jamais vencidos,
Vendo um horizonte que só eles podem ver.
Ah, tende piedade destes sonhadores
Que tragam suas angústias e suas dores
e se detêm, às vezes, nas calçadas,
Sondando os rostos da humanidade
Buscando sonhos latentes em seus traços.
Cantando antigos contos, como bardos,
Numa ânsia por saber, achar respostas...
Mas que ainda têm tão pouco, quase nada...
E que ainda lançam aos céus suas mãos postas
Ante um Mistério que não lhes revela o Nome,
E pedem por mais um dia,
E pedem sagas para saciar sua fome,
E pedem alegria,
E que haja sol nas suas janelas, nas manhãs,
Para abastecer suas lamparinas;
E que, nas jornadas frias,
Entre tormentas, entre neblinas,
Vestem só suas esperanças.
Se tendes algo de amor e compaixão,
Pedi pelos que lutam,
Pois, se não houver sol amanhã,
Abrirão marcha com a migalha escassa
Que lançares ao seu coração.
Ela é bem vinda.
Aos quixotes do mundo, voltai vossos votos e vossas orações,
Pois, se a Sabedoria é perfeita,
A marcha dos que buscam é forte e linda,
Persistente, honesta, singela.
Lançai, pois, vossos doces votos,
Rumo a estes tais quixotes
que rondam vossa janela.