A Lígia Campanella.
Não esquecerei a visão da bailarina,
de porte altivo, dominando a cena,
passos graciosos e olhar tão vivo,
gesto expressivo e face tão serena.
Mas, de repente, ela fixa um ponto
e gira e gira, como uma menina,
e apesar de encerrar com graça e encanto,
perde o equilíbrio ao se erguer, quando termina.
Sei que, sem ter tanta beleza nos meus atos,
tenho caído também, se gira a vida,
numa harmonia frágil, refletida
num ponto externo, incerto e inexato.
Alguém mostrou-lhe que, buscando um ponto interno,
iria manter-se de pé, posto que é certo
que, enquanto algo em nós decai, qual pleno inverno,
há algo que vibra qual verão, vivo e desperto.
Consulto a voz que me fala ao coração,
e ela me informa que decerto é preciso
admitir que o ponto externo vá ao chão
para dar vida ao ponto eterno ao qual eu viso.
Sei que, um dia, girará a bailarina
com o apoio único da sua própria essência.
Mas sei também que engana a aparência,
e já não é seu aquele corpo que ali gira.
Pois já não crê no ponto imaginário,
e vê girar a vida, a bailarina.
Já que algo eterno, por trás deste cenário,
vai estar de pé ao se fecharem as cortinas.
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